
Pisou naquele chao como se tivesse acabado de acordar de um coma profundo, de um pesadelo que parecia eterno. O toque frio das folhas nos seus pes ainda o faz viver um pouquinho de tudo aquilo que nao sai da sua lembranca. Como a insensatez de uma mente solitaria, o vento frio toca sua pele, protegida apenas por aquele fino roupao hospitalar, que nada cobre, que nada aquece; protecao desprotegida de uma vida desinfectada, desinteressante, sem ar, sem sombra, sem nada, simplesmente devastada pelo tempo. A ausencia de consciencia nao lhe permitiu ver seus cabelos se tornarem grisalhos, nem seu sorriso ser congelado, nem sentir o frio do vento que lhe toca na face. Nao ha' nada e nem ninguem, todos se foram e tudo o que lhe restou foi a vaga lembranca de quando deixou de sorrir. Hoje, habitada apenas pelo barulho do vento, e vozes desconhecidas, a lembranca do cheiro da poeira de uma demolicao que parece nao ter fim, sua mente vagueia e nada mais lhe acrescenta, nem as lembrancas de uma vida toda de dedicacao ao proximo, consegue lembrar. Se sente anestesiado. Toca seu corpo e nao sente mais prazer, nem desprazer, sente o ar entrar em seus pulmoes e sair carregando tudo de ruim, limpando seu corpo e seu pensamento e purificando sua alma. Quem esta ai? - pergunta ele, perdido num mar de vozes que parece nao ter fim, num eco de emocoes, de medos e angustias...solidao de uma mente vazia, vagando pelo espaco da inconsciencia pessoal, da morte, da vida, do misto de tudo aquilo que ja nao lhe faz mais chorar!